Varando noites sem sono
Na calçada contando histórias tristes,
Ricas em gargalhadas
Momentos sérios viram piadas.
Cigarros, tragos de cachaça,
Sua alegria por sua longa vida acabada,
Senti o cheiro da erva queimando
Na calçada expondo sua vida privada.
Ouvindo o silêncio da madrugada
Atento a qualquer pisada,
Atento a chegada dos "homi"
Com medo de ser mais um detento
Ou passar por mais um baculeijo.
Paulo já teve tudo a perder
Hoje não perde,
Só ganha se morrer,
Ignorado pela própria vida
Se despreza e se entrega às químicas.
Filho, irmãos, não sabe onde estão,
Sua dignidade jamais voltará,
Arrependimento por nunca ter sido perdoado,
Sente-se um nada,
Mas é igual a todos.
Humilde, só quer respeito,
Nada pede a ninguém,
Mas se alguém precisar
Ele não dá por que não tem.
Seu corpo frágil, deplorável,
Couro, osso, cabelos e dentes,
Em seus braços veias expostas,
E mesmo assim vive.
Existem toneladas de vontade de viver,
Mesmo usando coisas que matam,
Morrerá sentindo prazer,
Hoje nada mais pode lhe doer.
Paulo, talvez não tenha mais sobrenome,
E ninguém se importa com isso,
Paulo é apenas Paulo, vive,
Chora, ri, sente fome...
Não parece, mas é humano.
José Mabson 09-03-2008
Paulo foi um senhor que conheci aqui em Maceió logo
quando passei a morar aqui, ele era meu vizinho, gostava de ouvir muitas histórias
que ele contava-me, histórias pessoais de conquistas e decepções. Usuário
dependente de drogas e álcool, vivia sozinho num quarto de vila imundo e
sobrevivia de ajuda de alguns, educado, simples, humilde é assim que o vejo,
escrevi esse poema em sua homenagem a quase 6 anos, pois foi quando passei a não
ter mais contato com ele. Soube ontem que ele faleceu, descanse em paz Paulo.
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