segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Paulo

Varando noites sem sono
Na calçada contando histórias tristes,
Ricas em gargalhadas
Momentos sérios viram piadas.

Cigarros, tragos de cachaça,
Sua alegria por sua longa vida acabada,
Senti o cheiro da erva queimando
Na calçada expondo sua vida privada.

Ouvindo o silêncio da madrugada
Atento a qualquer pisada,
Atento a chegada dos "homi"
Com medo de ser mais um detento
Ou passar por mais um baculeijo.

Paulo já teve tudo a perder
Hoje não perde,
Só ganha se morrer,
Ignorado pela própria vida
Se despreza e se entrega às químicas.

Filho, irmãos, não sabe onde estão,
Sua dignidade jamais voltará,
Arrependimento por nunca ter sido perdoado,
Sente-se um nada,
Mas é igual a todos.

Humilde, só quer respeito,
Nada pede a ninguém,
Mas se alguém precisar
Ele não dá por que não tem.

Seu corpo frágil, deplorável,
Couro, osso, cabelos e dentes,
Em seus braços veias expostas,
E mesmo assim vive.

Existem toneladas de vontade de viver,
Mesmo usando coisas que matam,
Morrerá sentindo prazer,
Hoje nada mais pode lhe doer.

Paulo, talvez não tenha mais sobrenome,
E ninguém se importa com isso,
Paulo é apenas Paulo, vive,
Chora, ri, sente fome...

Não parece, mas é humano.


 José Mabson 09-03-2008

Paulo foi um senhor que conheci aqui em Maceió logo quando passei a morar aqui, ele era meu vizinho, gostava de ouvir muitas histórias que ele contava-me, histórias pessoais de conquistas e decepções. Usuário dependente de drogas e álcool, vivia sozinho num quarto de vila imundo e sobrevivia de ajuda de alguns, educado, simples, humilde é assim que o vejo, escrevi esse poema em sua homenagem a quase 6 anos, pois foi quando passei a não ter mais contato com ele. Soube ontem que ele faleceu, descanse em paz Paulo.

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