sexta-feira, 26 de junho de 2015

(***)Violão sem cordas

Um mundo onde as aparências valem mais que qualidades, um mundo onde a vaidade vale mais que a realidade, a realidade que já não mais existe ou se faz parecer existir, mundo onde curtidas e comentários são necessidades viciantes, cabeças fracas numa self de segundos banais. Uma evolução onde a capa/carcaça vem em primeiro lugar, um batom de cor, um brilho nos brincos, um sapato de grife, uma roupa Lacoste, um tênis Nike, enfim, sem perceber num breve instante chegou ao fim, o que levou? O que deixou? O que aprendeu ou o que ensinou? Prazeres materiais, desejos carnais, descuido por si mesmo, enchendo um ego vazio num mundo mesquinho.

Escrevo hoje baseado em uma situação de alguém que conheci e infelizmente chegou a falecer, escrevo hoje não inspirado mas, por necessidade, não de resolver e sim apenas de desabafar, não entrarei em detalhes, seria falta de ética citar nome. Resumindo tudo em poucas palavras: um belo corpo coberto por marcas de propagandas não demonstra o quão podre se encontra seu corpo.

Violão sem cordas


Um corpo violão,
Violado por vícios que destroem
Corpo, alma e coração,
Belas pernas que já nem andam
Antes fascinavam olhares
De desejos e loucuras canais.
Um corpo frágil desprezível
Enrugado pela vida que cruel foi,
lentamente.
Um olhar envergonhado
Por demonstrar arrependimentos
Corpo que hoje pede socorro,
Por na cara mostrar um pedido:
Socorro!

Um corpo em carne e osso
Atitudes de quem se acha imortal
Vida boçal, nada importa preço
Desprezo hoje nos olhares, fatal.

Hoje o que exibe vale mais
Ostenta a realidade cruel, 
Contradiz o que sempre planejou
E só lamenta o tempo que perdeu.
Um corpo humano abusado 
De forma desumana, acabado
Uma vida superficial escrota
Uma doença fatal, a solta.


Cuidados em aparências inúteis
Roupas, calçados e jóias,
Buscando apenas olhares
Buscando coisas que de nada valem.

José Mabson 
26/06/2015

quinta-feira, 25 de junho de 2015

(***) NUVEM


De repente o céu parece querer cair em sua cabeça, de repente cinzento quase preto ele fica, nuvens pesadas que parecem querer descer e te engolir, porque parar pra pensar essas coisas? É só um céu, são só nuvens, mas parece intimidar, parece mesmo querer desmoronar sob nossas cabeças. Sabe aquele frio na barriga que sentimos quando ouvimos: te pego na saída!? É quase o mesmo frio que te dá quando alguém fala: preciso falar com você. Bom, o céu quando pesa parece falar isso, mas ele não fala por si só, junta o seu dia a dia difícil, contas atrasadas, brigas no relacionamento, enfim, o céu pesado amedronta por que sua consciência também já vem pesada com algo.

Comparações meio que confusas, mas isso não posso mudar por mais que eu tente, sou grosso, bruto mesmo, cavalo até, mas na mesma proporção consigo ser doce, simpático, diria que por culpa de coisas que aceito na vida, o céu realmente parece querer cair sob minha cabeça, mas não parece querer me engolir, pra quê iria querer me degustar? bela indigestão causaria.


(***)


Sabe quando você encontra a pessoa ideal? Sabe quando você não dá valor proporcional a quem te põe em primeiro lugar? É bem por aí que me sinto as vezes, mas daí tento raciocinar que o valor proporcional a quem não dou é a mim mesmo, e isso afeta todos que te rodeiam, todos que te amam, questão apenas de auto-avaliação, questão de auto-cobrança. Resumindo isso hoje posso dizer que mesmo nada sendo como queremos ainda assim me encontro feliz, acho que nunca falei antes sobre eu me sentir feliz.


(***)

Aos redores de onde rondei 
Andei sempre rodeado, parado
Aos redores que me procurei
Voltei e tudo encontrei.

Aeroportos, cais, estações
Não me parecem atraentes
Prefiro ser mais paciente
Ser louco sem ser inconsequente.

Louco por estradas sem direção
Instigado por paradas cegas 
Andar só sem saber onde ir
Voltar sem saber onde chegar.

Perder os rumos, os prumos 
Perder os medos, manter receios
Prevenção sem precaução
Preocupação por desilusão.

Andar em círculos quadrados
Rotina viciada na mesmice
Desejos fantasiados indesejados 
Complicado andar sem passos.

Voltei a te encontrar?
Voltei pra te encontrar?
Voltei te conhecer?
Não não, voltei apenas a viver.



José Mabson 
25/06/2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

(***) AMOR, SAUDADES OU DEPENDÊNCIA?

AMOR, SAUDADES OU DEPENDÊNCIA?


Domingo, 31 de maio, 6:45 da manhã, dentro do ônibus após esperar 58 minutos no ponto de ônibus pra tentar chegar em casa o mais rápido possível pra tentar também aproveitar o domingo dormindo. Não estava em minha mente começar a escrever algo agora, dormir e descansar era o meu foco até então, mas estou dentro de um ônibus lotado numa manhã de domingo e por sorte sentado, nem tanta sorte por que tem uma senhora de média uns 75 anos roncando ao meu lado. Pensei em escrever po...r que um senhor de 82 anos ( ele falou sua idade) desceu na entrada do cemitério.
O fato de descer na entrada do cemitério também não é o motivo pelo qual eu estou escrevendo aqui, agora, e sim pelo papo do senhor viúvo com o motorista durante 22 minutos que foi o tempo gasto da subida até a descida do senhor.
           Viúvo a 32 anos, aposentado a 36, aposentado pelo exército brasileiro, nenhum filho, hoje sem nenhum parente além sobrinhos filhos de seus dois irmãos já falecidos, sobrinhos tem vários que nunca chegou a conhecer e talvez nem chegue devido ao esquecimento dos outros para com ele. Só, no mundo, esse simpático senhor todos os domingos toma café da manhã com sua falecida esposa
no cemitério Parque das Flores aqui em Maceió, por 32 anos segundo ele nunca faltou um domingo, segundo ele não mais teve relacionamento no modo geral com mais ninguém, fala que ela foi suficiente mulher para compensar a sua ausência física por esses 32 anos.
Me perguntei por umas 3 vezes: isso é amor ou excesso de solidão?
E não achei explicação, não encontrei sentido, mas encontrei sinceridade a cada palavra dita por ele durante seu percurso da porta de casa onde fica um ponto de ônibus até o cemitério onde não tem parada de ônibus, mas o motorista do ônibus é sempre o mesmo de todos os domingos e faz questão de parar mesmo sem ter parada na entrada principal do cemitério.
Outra coisa que me fez sorrir espontaneamente e admirado foi em ver o brilho nos olhos do senhor na hora da parada, um olhar belo e sincero um sorriso nitidamente natural exposto que talvez ele nem perceba que tem, seu jeito era como de um garoto de 13 anos vivendo seu primeiro amor, e creio que com esse senhor foi e será seu primeiro, único e último amor.
Eu bruto, aqui chorando ao escrever, eu bruto, as vezes chego a acreditar que realmente existe amor.


José Mabson
31/05/2015